Opinião do Jornal “Diário de São Paulo”-10-03-2010-pág.4
Os japoneses, em sua sabedoria milenar, prestam reverência especial aos professores. São as únicas pessoas diante das quais o imperador se inclina, em sinal de respeito pela missão sagrada que desempenham, de ensinar. Igualmente sagrado, em todo o mundo civilizado, é o direito de greve. Trata-se da principal arma do trabalhador, na defesa de seus direitos.
Greve de professores, portanto, deveria ser uma exceção, um recurso extremo e raro. Afinal, é uma categoria essencial para a formação de uma sociedade. Convém, portanto, que os líderes dos professores pensem duas vezes antes de convocarem uma greve nas escolas.
Não se pode negar que os professores têm razões de sobra para insatisfação. Há muitas décadas que nossas autoridades dedicam pouca atenção ao ensino; embora sejam reveladores, os baixos salários não são o único sintoma desse descaso crônico.
É justo e necessário que os professores protestem, reclamem, mobilizem-se na defesa da qualidade da educação, mas sem usar a greve como primeira solução ou recurso frequente. Em seu passado de lutas e conquistas, o professorado já deu demonstrações expressivas de criatividade. Melhor será, para a sociedade paulista, que novamente escolham opções de ações criativas, sem necessidade de parar com as aulas.
Que promovam protestos para a divulgação de sua causa, mas mantendo as aulas. Que façam campanhas na defesa da melhora de seus salários, mas com as crianças e jovens aprendendo em suas escolas. Que forcem o poder público a dar resposta efetiva a suas queixas, mas mantendo as aulas. Que atraiam os pais para se tornarem parceiros, mas com os alnos sempre dentro das salas de aula.
O uso constante ao recurso da greve é uma distorção de uma prática comum na indústria, onde a empresa parada perde mercado para o concorrente. Baseados no sindicalismo industrial, as organizações do funcionalismo público repetem o gesto, como se pressionassem patrões. Em verdade, só prejudicam o pobre contribuinte que depende do serviço público para a saúde e a educação de seus filhos. É uma prática pouco criativa e repetitiva.
É um erro banalizar a greve no serviço público, como vem acontecendo com triste frequência nos últimos anos. São ações que só atingem, no final das contas, o pobre, o trabalhador, aqueles que dependem dos serviços públicos porque não têm renda para buscá-los na iniciativa privada.
Além disso, as manifestações dos professores têm se concentrado frequentemente em grandes avenidas, como a Paulista, travando o trânsito já caótico da maior cidade do país e, mais uma vez, torturando cidadãos comuns.
Deixar crianças e jovens sem aula, parar o trânsito da capital e paralisar milhares de pessoas são atitudes que não atingem o governante. Mas, sim, o ensino e a vida do trabalhador, além de prejudicar a boa imagem do professor.
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